Qual a etiqueta de comportamento dentro de um centro budista?
Dê preferência a roupas confortáveis e discretas: as roupas devem ser modestas e simples. Não se deve usar roupas transparentes, colantes, decotadas, tais como shorts, bermudas, minissaias, roupas sem mangas, camisetas regatas etc.
Evite apontar os pés para os monges ou estátuas do Buddha.
O modo correto de cumprimentar a um monástico é fazer o gesto de anjali (gashô), com as palmas juntas à altura da cabeça ou peito. Apesar de não ser proibido, em geral pede-se que evitem apertar a mão ou abraçar os monges e monjas.
Procure sempre chegar às salas antes do instrutor.
Entre descalço e sem chapéus nas partes interiores do templo.
Não é permitido o consumo de quaisquer intoxicantes nas dependências da Sociedade Budista do Brasil.
Desligue celulares e demais aparelhos eletrônicos que produzam quaisquer tipo de ruídos, respeitando assim o Nobre silêncio.
Não é permitida a utilização de inseticidas. Para aqueles que se sentirem incomodados pela presença de insetos, favor utilizarem repelentes que não exalam forte odor, evitando assim incomodar os participantes.
O que é Budismo Theravada?
Theravada é a mais antiga dentre as tradições budistas ainda ativas na época atual. Ela baseia seus ensinamentos no cânone em pāli, que historiadores em geral reconhecem como sendo o registro mais antigo e muito provavelmente o mais fiel ao que o Buddha de fato ensinou a seus discípulos. A palavra Theravada significa “a doutrina (vada) dos anciãos (thera)”, e como o próprio nome indica, se caracteriza por tentar aderir ao máximo aos ensinamentos mais antigos, praticá-los e preservá-los. As regiões do mundo onde é mais comum atualmente são Sri Lanka, Myanmar, Tailândia, Laos, e em menor escala, Camboja e Vietnã.
A ênfase da tradição Theravada de budismo é da conduta moral servindo de base para uma mente saudável que então pode ser desenvolvida para ganhar ainda mais qualidades continuamente, até alcançar um alto nível de sabedoria e pureza, suficientes para quebrar o ciclo de nascimento e morte e alcançar a liberdade e a realização de Nibbāna. Apesar de também existirem aspectos devocionais no budismo Theravada, o caminho de libertação não passa por cerimônias místicas ou depende da bênção ou aprovação de deidade alguma, mas sim do esforço e dedicação do estudante, além de prática correta. Para aqueles que ainda não conhecem nada sobre budismo, sugerimos a leitura de ABC do Budismo.
Theravada e as demais tradições
O budismo Theravada é a linhagem ortodoxa do budismo, uma linhagem que se propõe a preservar os ensinamentos e práticas originais presentes na época em que o Buddha ainda era vivo.
A grande maioria das tradições budistas presentes no mundo atual derivam de um movimento de reforma iniciado cerca de 400 anos após o falecimento do Buddha. Este movimento trouxe uma nova abordagem aos ensinamentos do Buddha, e, talvez sua característica mais marcante, mudou o foco da prática para dar ênfase quase exclusiva ao ideal do Bodhisatta, introduzindo a ideia de que os Arahants não estão de fato iluminados e que somente os Buddhas alcançam verdadeira iluminação. Portanto, rejeitaram a figura do Arahant, tomando-o por um caminho egoísta, e focaram no caminho de prática do Bodhisatta (um aspirante a tornar-se um Buddha); se autodenominaram Mahāyana e então passaram a chamar os budistas ortodoxos de Hinayana. Os praticantes do Theravada não aceitam a denominação Hinayana pois a consideram ofensiva – o termo hīna significa “inferior, grosseiro, de má qualidade”. Para mais detalhes sobre este assunto, recomendamos a leitura deste texto: Arahants. Bodhisattvas e Buddhas.
Ambas as linhagens de pensamento evoluíram por mais de 2000 anos de história, e principalmente o Mahāyana, acabaram por subdividir-se em várias centenas de escolas e tradições, incluindo aqui as diversas tradições tibetanas (que preferem ser chamadas de Vajrayana) e as escolas Zen e Terra Pura, que prosperaram principalmente na China, Japão e Coreia.
Entre as principais diferenças entre o budismo Theravada e as diversas tradições Mahāyana e Vajrayana podemos citar:
- No Theravada não há obrigatoriedade em fazer-se o voto de Bodhisatta. Aqueles que quiserem podem fazê-lo, aqueles que quiserem podem almejar tornarem-se Arahants, Pacceka Buddhas ou não precisam ter um objetivo definido, podem apenas melhorar e purificar a si mesmo continuamente sem fazer compromisso com um ou outro caminho específico.
- O Theravada afirma que os Buddhas e os Arahants alcançam a exata mesma iluminação. O próprio Buddha é visto nas escrituras antigas afirmando isto categoricamente e ele mesmo se declarava um Arahant. Faz inclusive parte do cântico mais básico que todas as escolas recitam: Namo tassa bhagavato arahato sammā-sambuddhassa.
- Não é dada tanta ênfase aos aspectos divinos do Buddha. Embora também haja menção deles nas escrituras, a ênfase é mais dada a seu aspecto humano. Em vez de retratá-lo flutuando no espaço emanando raios de luz, o Buddha é em geral retratado ao pé de árvores, ensinando, se alimentando como as demais pessoas e mesmo sofrendo das doenças normais que todos experienciam.
- O Theravada não reconhece Bodhisattas como seres plenamente iluminados. Os entendemos como seres excelentes, dignos de reverência, gratidão e emulação, mas ainda não alcançaram Nibbāna como os Arahants e os Buddhas fizeram.
- O Theravada não reconhece um segundo ou terceiro “por em movimento da roda do Dhamma”. Nas escrituras o Buddha se declarava “um professor de mão aberta”, que não escondia aspectos de seus ensinamentos. Ele ensinou o caminho completo de forma aberta para todos que quisessem ouvir, quando ainda era vivo. Os diversos ensinamentos “secretos” que afirmam terem sido revelados centenas ou milhares de anos após sua morte são considerados adições ao original, mas não a palavra do próprio Buddha.
- Apesar do Theravada reconhecer a existência de Buddhas do passado e existência de mais Buddhas no futuro, não afirma a possibilidade de mais que um Buddha coexistindo ao mesmo tempo num universo. Atualmente ainda estamos dentro do sāsanā do Buddha Gotama e muitos milhares de anos após o término deste sāsanā, será a época do Buddha Meteya alcançar a iluminação e novamente pôr a roda do Dhamma em movimento.
Tenho muitas dúvidas sobre budismo. Como podem me ajudar?
Venha nos visitar pessoalmente. Não julgamos apropriado fazer muitos esclarecimentos por mensagens eletrônicas pois é difícil avaliar a pessoa com quem estamos conversando para então dar a melhor resposta possível. Tomamos o ensinamento do Buddha muito a sério e julgamos que vale a pena ir pessoalmente a um lugar específico para fazer contato com ele, ao invés de apenas sentar em frente um computador e teclar perguntas. Estamos cientes de que muitos moram longe e não têm a possibilidade de vir pessoalmente, mas nós também temos nossos limites e não podemos estar disponível para todas as pessoas, o tempo todo. Nosso objetivo primário é dar apoio aos praticantes do Rio de Janeiro, e então, na medida que seja possível, também às pessoas de outros estados.
Mas também é importante ressaltar que o budismo é uma filosofia muito extensa e profunda, não é de uma só olhada que você será capaz de aprender tudo. Muitas vezes o que é necessário é ter um pouco de paciência e ir aos poucos pesquisando, praticando e fazendo contato com outros budistas até todas suas dúvidas sejam esclarecidas. A Sociedade Budista do Brasil oferece algumas facilidades eletrônicas como uma rede social privada e a possibilidade de assistir ensinamentos online e mesmo conversar com Ajahn Mudito por videoconferência. Para saber mais, leia sobre como participar do programa Amigos da SBB.
Como posso ajudar a Sociedade Budista do Brasil
Dāna é a palavra em páli para caridade, e, em geral, é utilizada para se referenciar a doações feitas com o propósito de ajudar o Buddha Sāsana. O Buddha dizia que de todos os fenômenos condicionados, seu ensinamento, o Dhamma, é o mais excelente, e colaborar para que este ensinamento prospere e possa ser transmitido a mais pessoas é uma das ações mais meritórias que uma pessoa pode realizar. O bom carma desta ação de diversas formas serve para plantar as condições para que aquela pessoa progrida no caminho para a iluminação. Você pode doar com trabalho, com itens de materiais (produtos de limpeza, material de construção, alimentos), realizando um serviço do qual estejamos necessitando, fazendo uma doação monetária avulsa ou tornando-se um Amigo da SBB. Para mais informações clique aqui.
Como dedicar mérito?
É muito comum pessoas realizarem atos meritórios mas então preferirem dedicar o bom carma destes a uma outra pessoa, viva ou falecida. Isto é chamado de transferência de mérito. Já em outras situações, a pessoa tem um objetivo em mente e gostaria de direcionar o bom carma realizado para auxiliar naquele projeto. Neste caso, a pessoa também pode dedicar os méritos para tal propósito. Em geral isto só deve ser feito para fins nobres como: “que eu supere meu hábito da raiva”, “que eu tenha sempre bons amigos”, e assim por diante. Apesar de não ser proibido, é desencorajado dedicar méritos para fins mundanos, como ganhar uma promoção no trabalho, passar na faculdade, etc.
Em ambos os casos, o procedimento para transferir os méritos é igual: após fazer a doação, pegue uma pequena quantidade de água num copo e um pires, ou algum outro receptáculo, e com a mente calma e serena, mentalize o propósito ou a pessoa que quer ajudar, e ao mesmo tempo, lentamente despeje a água no pires mantendo aquela intenção em mente. Neste caso a água serve de símbolo para sua oferta de mérito. Terminado, despeje o conteúdo em uma planta (se possível, numa árvore Bodhi).
Se você estiver fazendo a doação perante um monge, você pode pedir que ele recite o cântico de anumodana, e enquanto ele recita, você despeja a água e faz sua mentalização.
Essa cerimônia é uma forma de ajudar a focar a mente e dirigir o fluxo dela para um auspicioso propósito, mas é só isso: o poder não está na cerimônia em si, mas sim na qualidade mental de quem a realiza.
Não há regras específicas sobre o que pode ou não ser oferecido, mas em caso de dúvida, pergunte-nos o que estamos necessitando atualmente. Às vezes podem ser alimentos, medicamentos, produtos de limpeza, impressão de material didático, auxílio financeiro, etc., mas uma das formas mais tradicionais e bonitas de fazer mérito é oferecer suporte a um monge ou monja, dando comida, oferecendo tratamento médico, etc. Outra forma muito auspiciosa de ajudar o Buddha Sāsana é colaborando para a construção de edificações no monastério, quer sejam habitações, construção de um templo, ou mesmo cozinha e banheiros: é dito que esse tipo de dāna gera muito mérito porque o que foi construído durará dezenas de anos e permitirá que centenas, ou mesmo milhares, de pessoas estudem o Dhamma.
Glossário de termos mais comuns
Aqui você encontrará o significado de algumas expressões que usamos bastante, mas que podem ser novas e estranhas para quem está chegando agora. A maioria das palavras vem do idioma Páli.
Para consultar um glossário mais completo, você pode acessar o glossário do site Acesso ao Insight, onde encontrará um número maior de palavras.
AJAHN – Professor. Na linhagem da Forest Sangha, o monge precisa ter no mínimo 10 anos como monge para que possa começar a ser chamado de Ajahn.
ANATA – não-eu, ausência de essência.
ANICCA – impermanência.
ANUMODANĀ – significa “muitos méritos” ou “eu me regozijo nos seus méritos”; forma de agradecer.
ARAHANT – alguém plenamente iluminado, liberto, que realizou Nibbana.
BHANTE – Venerável Senhor; vocativo para se dirigir e/ou se referir a monges plenamente ordenados. Mais usado na tradição cingalesa que na tradição tailandesa.
BHIKKHU – monge da tradição Theravada.
CÂNONE PÁLI – conjunto de livros em que estão registrados os ensinamentos dados pelo Buddha.
DĀNA – generosidade ou doação.
DHAMMA – o conjunto de ensinamentos do Buddha.
DUKKHA – sofrimento, insatisfatoriedade.
KALYĀNAMITA – amigo espiritual, amigo do Dhamma.
LEIGO – sinônimo de laico, se refere àquele que não é monge ou monástico.
LUANG PÓ ou LUANG POR – Venerável Pai ou Venerável Avô; maneira bastante reverente se referir a / tratar com monges muito sêniors e muito estimados.
MAHĀ – grande.
METTĀ – amor-bondade, amizade amorosa, boa vontade.
MUDITĀ – o oposto da inveja, sentimento de felicidade por algo bom que aconteceu a outra pessoa, que outra pessoa possui ou realizou.
NIBBĀNA – liberação, quando se atinge a iluminação plena.
PÁLI – idioma em que os ensinamentos do Buddha foram originalmente registrados, criado especificamente para este fim.
PAÑÑĀ – sabedoria.
PINDAPATA – caminhada diária realizada pelos monges nos vilarejos próximos de onde estão para esmolar os alimentos que consumirão na refeição daquele dia.
PŪA – homenagem, palavra usada para se referir à sequência de cânticos que reverenciam o Buddha, o Dhamma e a Sangha.
SĀDHU – muito bom, excelente. Forma de agradecer aos ensinamentos oferecidos e/ou de expressar profundo contentamento em relação a alguma coisa.
SAMĀDHI – estado de concentração profunda.
SAMSĀRĀ – ciclo incessante de renascimentos e mortes nos diversos reinos de existência, do qual se liberta através de Nibbana.
SANGHA – os monges, aqueles que abriram mão da vida laica para seguir os ensinamentos do Buddha.
SATI – a capacidade de aplicar a mente a um objeto mental, presença mental.
SĪLA – ética, moralidade.
TAN – Venerável Senhor; forma de se referir e/ou tratar com monges plenamente ordenados que não sejam professores. Para professores/monges com mais de 10 anos de ordenação, é possível usar Tan Ajahn.
THERA – ancião, monges com mais de dez anos de vida monástica.
TIPITAKA ou TRIPITAKA – os três conjuntos de textos que compõem o Cânone Páli: regras de disciplina (Vinaya), discursos do Buddha (Suttas) e tratados de filosofia (Abhidhamma)
UPĀSIKĀ (feminino) e UPĀSAKA (masculino) – discípulos leigos do Buddha.
VASSA – os meses da estação das chuvas na Ásia (agosto, setembro e outubro). Expressão também usada para falar do tempo que um monge tem na vida monástica, desde a sua ordenação plena.
VIHĀRA – templo ou mosteiro budista.
VINAYA – conjunto de livros que contém o código de disciplina monástica; muitas vezes, usa-se a palavra para se referir ao código de disciplina monástica em si.
ZABUTON – colchão sobre o qual colocamos o zafu para meditar.
ZAFU – almofada redonda para se sentar em meditação.